Boletim O Globo – Setembro/2020

Resumo: 

Nas editorias do jornal O Globo, a que mais publicou sobre ou mencionou a maconha em setembro foi a de “Colunas”, com 11 no total. Nas editorias “Cultura” e “Sociedade”, foram duas aparições em cada e somente uma vez em “Brasil”, “Mundo”, “Opinião”, “Rio” e “Fato ou Fake”.

Os colunistas foram os que mais abordaram diretamente ou fizeram menções à maconha no mês. Foram 11 publicações, sendo 4 na coluna do Lauro Jardim, 2 na coluna do Ancelmo Gois, 2 na coluna Sonar e 1 nas colunas de Bernardo Mello Franco, Antônio Gois e do Acervo do jornal.

No dia 4, a coluna do Lauro Jardim noticiou que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, está segurando o projeto de liberação do plantio de maconha e se comprometeu com deputados conservadores a não pautar o projeto que autoriza o plantio de maconha o Brasil sem antes conversar com a bancada conservadora, mais do que empenhada em enterrar a proposta.

No dia 5, a mesma coluna deu destaque para a radical opinião de Mourão sobre projeto que libera plantio de maconha. O vice-presidente da República (aquele que se refere ao mais notório torturador da ditadura militar brasileira como um homem honrado) engrossa a tropa de ministros militares contrários à aprovação do projeto de lei em tramitação na Câmara. Define Mourão: – “Sabe o que vai acontecer? A rapazeada da boca de fumo vai fundar uma cooperativa, criar um CNPJ e dizer que vai vender seu produto para a Pfizer, ora!” 

Dia 11, ainda na coluna do Lauro jardim, o destaque foi para o crescimento de 295% nas apreensões de drogas nas fronteiras brasileiras. De maio a agosto de 2020, foram apreendidas 356 toneladas de drogas, entre maconha, cocaína, haxixe e outros entorpecentes. De janeiro a abril, foram 90 toneladas.

No dia 13, a coluna do Ancelmo Gois publicou nota de que estabelecimentos no Rio colocam placa deixando clara a proibição de fumar maconha no local. 

Dia 16, a coluna do Lauro Jardim noticiou: Osmar Terra em mais um round contra o canabidiol.

A coluna destacou que o obscurantista e negacionista de primeira ordem foi um dos primeiros a se inscrever para falar em um painel sobre o tema, realizado pela Secretaria de Relações Internacionais da Câmara. 

No evento, Terra constrangeu os convidados e tomou uma invertida dos mesmos e outros parlamentares na sequência de suas falas. Repercutimos esse momento ridículo no episódio 2 do PocketCast Maconhômetro, confira. 

No dia 21, o jornalista Bernardo Mello Franco publicou em sua coluna um artigo de opinião sobre o deboche de Flávio Bolsonaro na atitude de faltar acareação agendada pelo Ministério Público do RJ para ir participar de programa de auditório em Manaus, às custas de dinheiro público, onde cantou e dançou músicas de cunho homofóbico e hostis à maconheiros.

No dia 22, foram duas publicações com menções à maconha na coluna “Sonar”, área descrita pelo jornal como um “mergulho nas redes sociais para analisar dados de tendências eleitorais, identificar os personagens, suas narrativas e jogar luz sobre o jogo sujo político na internet”. A primeira delas noticiou que a cantora Ludmilla vai ao STF contra deputado bolsonarista que a acusou de apologia ao tráfico pelo lançamento do hit “Verdinha”, da funkeira carioca.

A segunda publicação repercutiu o mesmo tema do artigo de Bernardo Mello Franco, sobre a viagem de Flávio Bolsonaro a Manaus, faltando acareação ordenada pelo MP-RJ. Lá, como descrito anteriormente, o senador da república, filho primogênito do presidente, também conhecido como “Cagão”, e seu irmão Eduardo Bananinha cantou e dançou a música “todo maconheiro dá o toba, todo maconheiro dá o anel”. Sem comentários.

No dia 28, a coluna do Acervo do jornal republicou uma entrevista do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, sobre a legalização da maconha no país, onde afirma que a mesma é uma ferramenta de combate ao crime. A iniciativa se deu devido ao anúncio de aposentadoria feito pelo político durante a semana.

No mesmo dia, a coluna do Ancelmo publicou em nota a informação “valiosíssima” (contém ironia) de que o músico Hermeto Pascoal não curte maconha, sendo mais chegado à cachaça.

Fechando as publicações das colunas, ainda no dia 28, o colunista Antonio Gois, setorista de Educação no jornal, publicou artigo de opinião sobre o ministro da Educação do desgoverno Bolsonaro, onde faz críticas às declarações homofóbicas do mesmo em entrevista ao Estadão. Ao comparar as trapalhadas do atual ministro com as de ministros anteriores, o colunista menciona o episódio em que Abraham Weintraub acusou sem provas universidades federais de manterem plantações extensivas de maconha em seus campus. 

Nas demais editorias… 

No dia 4, a editoria “Opinião” publicou artigo assinado por Ilona Szabó e Carolina Taboada, diretora e pesquisadora, respectivamente, do Instituto Igarapé. O texto, de título “Olhem os números para reduzir o problema das drogas”, aponta que o caminho da política de drogas brasileira é errático, cujo discurso governamental é retrógrado e ineficiente. As autoras trazem experiências assertivas de outros países do mundo e dados pós-legalização da maconha nos EUA e Canadá que refutam os argumentos de grupos conservadores brasileiros, como o de que a regulamentação da cannabis para fins medicinais criará um exército de usuários problemáticos e dependentes químicos. Ilona e Carolina finalizam apontando que dados já disponíveis no Brasil e no exterior mostram que as políticas públicas baseadas em repressão generalizada e abstinência já fracassaram.

Dia 5, na editoria “Sociedade”, é publicada notícia de que o projeto que libera plantio de maconha para fins medicinais gera desentendimento entre ruralistas. Após o presidente da bancada no congresso se declarar favorável à discussão do projeto sem preconceitos, a ala conservadora reagiu. Como não há consenso entre os membros, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), decidiu em reunião que não haverá posicionamento oficial da frente sobre o projeto. 

Dia 7 na editoria “Cultura”, matéria sobre os gastos do rapper Kanye West em sua campanha presidencial nos EUA, faz menção à posição do cantor em defesa da legalização da maconha.

No dia 8, a editoria “Rio” publicou a notícia de que um traficante foi preso em sua casa, no bairro de Copacabana, com mais de 200 mil reais em drogas, dentre elas mais de 1,2 Kg de maconha. 

Dia 10, matéria na editoria “Sociedade”, repercute que o Ministério da Saúde decidirá sobre incorporação de medicamento à base de cannabis ao SUS até fevereiro de 2021. O texto destaca que o ministro afirmou não ter nenhuma restrição ao canabidiol e que seu fornecimento pelo SUS já está em processo de regulamentação.

No dia 11, na editoria “Brasil” foi publicada matéria sobre o calendário de votações do STF no semestre. O texto aponta que entrará na pauta uma ação em que se discute se a revista íntima nas prisões é constitucional. O MP-RS entrou com a ação para questionar uma decisão que absolveu de tráfico uma moça que levava 96 gramas de maconha no corpo para entregar ao irmão, preso em Porto Alegre-RS. O tribunal estadual decidiu que a prova era ilícita por ter sido obtida através de revista íntima, o que é questionado pelo MP.

No dia 12 é publicado na editoria “Cultura” matéria sobre o falecimento de Toots Hibbert, um dos pioneiros do reggae na Jamaica, aos 77 anos. O texto lembra sua passagem de 18 meses pela prisão no início dos anos 1960 por posse de maconha. 

Em 28 de setembro, na editoria “Fato ou Fake” é publicada a apuração do veículo sobre uma imagem que circula na web que mostra o Papa Francisco fumando maconha com Evo Morales. A editoria confirma que trata-se de fake news e explica que a montagem é um meme que circula na internet pelo menos desde 2015. 

A última aparição da maconha em O Globo no mês de setembro ocorreu no dia 28 na editoria “Mundo”. A matéria destaca o anúncio de aposentadoria de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai e atualmente senador. A liderança da Frente Ampla de Esquerda está sofrendo de doença imunológica crônica. O texto destaca que Mujica ficou conhecido mundialmente por descriminalizar o aborto e legalizar a maconha.

Este boletim é parte do projeto do Cannabis Monitor de monitorar o tratamento da grande imprensa brasileira em relação à maconha. Queremos saber o que chega e como chegam as informações sobre este tema ao grande público leitor brasileiro.